Você precisa ter tempo e disposição para não terceirizar seu filho.
O projeto de ter um filho é como qualquer outro projeto - quanto mais planejado melhor. Qual sua disposição de tempo? Financeira? Qual a qualidade de vida que você quer, e quanto precisa para manter isso com uma pessoa a mais na família?
Pensar nessas coisas de antemão será essencial para não ser pego de surpresa. Filho pode sair muito caro ou não, depende dos seus desejos.
Mas uma coisa é certa: filho demanda bastante tempo! Uma parentalidade consciente e positiva demanda bastante tempo e dedicação. Mas claro que isso depende de você e de que tipo de parentalidade quer exercer.
Seu filho será daqueles que vai ter ver só duas horas por dia? Será daqueles que ficam majoritariamente com terceiros, para que você possa trabalhar, sair e continuar com a sua vida de antes?
Ou seu filho terá seu tempo, sua dedicação, tempo verdadeiro e de qualidade, fins de semana e feriados?
2) Projeto familiar requer generosidade.
Entender que ter filhos exige generosidade, carinho, amor e afeto. Seja entre o casal, seja com os filhos. Além disso, ter filhos perpassa necessariamente o encontro com o seu eu, com a criança que foi, com a família que teve, com os pais que querem ser.
E isso exige também generosidade consigo mesmo. Se entender e respeitar, entrar em contato consigo e buscar o seu melhor, para que aquela família que ali se inicia seja construída numa estrutura sólida e forte do eu verdadeiro.
Para criar seus filhos para serem adultos seguros, bons e independentes se faz necessário dar-lhes muito amor e carinho, atenção e segurança, afeto e cuidados. E nada disso é possível sem a generosidade dos pais.
3) O casal precisa de ter cumplicidade prévia, para que possam exercer a parentalidade juntos, e não "apesar um do outro".
O puerpério é uma fase que precisa de cuidados, e muito falamos dela aqui.
Nessa época da vida da mulher, o ideal é ter todo apoio para que consiga vivenciar a fusão emocional com o bebê e seu encontro com a sombra de forma tranquila, sem outras preocupações.
Isto é, ela precisa ser apoiada emocionalmente, para dar apoio emocional ao bebê. E isso só pode acontecer em im casamento em uma conjuntura em que a mulher ser apoiada pelo marido não seja nenhuma novidade.
Como assim?
Quando há apoio mútuo, significa que ambos têm o hábito de se apoiar.
Então, quando chega um tempo em que um precisa apoiar mais o outro, esse hábito não é estranho. Em uma configuração de casal, por exemplo, em que o marido é apoiado pela mulher e a recíproca não é verdadeira, o puerpério pode ser um momento complicado para ambos, uma vez que o apoio que a mulher precisa o marido não sabe dar.
Da mesma forma, pode ser igualmente ou mais difícil quando o marido exige apoio de uma mulher puérpera. O mesmo acontece com a sexualidade, que nessa fase não se resume a sexo, mas a todo o carinho e afeto do casal, e esse elo saudavel entre eles se faz necessário.
Quando chega o momento de separação fusional, a mutualidade do casal mais uma vez se faz necessária, uma vez que o marido clama sua esposa de volta e precisa estar em total sintonia com ela para tal. Para que seja feito com carinho e segurança.
Ou seja, o casal deve estar muito conectado e trabalhando em equipe muito antes da decisão dos filhos, para que quando eles cheguem o companheirismo auxilie nos processos que acompanham essa chegada.
4) Expectativa real: Filho dá muito trabalho, põe coisas na sua vida em stand by, e isso pode ser difícil e precisa valer a pena pra você.
Filho dá muito trabalho. Mesmo. Não é exagero, em alguns casos é até eufemismo: filho dá muito trabalho mesmo. Por que a maior parte dos bebês choram muito, demanda muita atenção e acorda à noite toda. Quando maiores, demandam atenção mais qualitativa, necessitando de estímulos, atenção e carinho para se desenvolver. E quanto mais vão crescendo, mais conscientes estão e mais ainda querem e precisam de sua presença e atenção.
Claro que tirar um tempo pro casal, ter um tempo pra você, fazer atividades que não incluam crianças, tudo isso é muito saudável. Mas nem sempre é possível e pode demorar um pouco pra se concretizar.
E para ter filhos de forma consciente, positiva e saudável, é necessário que tudo isso faça sentido pra você, e valha a pena. É importante que seu desejo de ter filhos sobressaia esses outros desejos, e que abrir mão dessas coisas esteja nos seus planos, consciente, compreendendo que faz parte desse novo projeto. E abraçar isso.
Por que é importante saber disso?
Claro que em alguns momentos a gente cansa, a gente fica com saudade dos tempos passados, fica sonhando com os filho mais velhos e a retomada dessas atividades. Mas são momentos. E não tomam todos os seus dias, nem te fazem se arrepende da decisão em silêncio para que ninguém saiba. Por que você decidiu de forma consciente, e não dentro de expectativas irreais.
5) Não ter filhos não tem problema, é uma opção. Mas ter filhos é diferente de ser pais. E ter filhos sem ser pais tem problema sim!
A parentalidade mandatória já está sendo questionada há bastante tempo.
Já não se acredita mais que uma família é menos família por que não teve filhos, mas sabemos que essa cobrança social ainda existe e é forte. E esse texto vem exatamente com o intuito de dizer que,assim como qualquer outra decisão, abrace esse projeto somente se for de seu desejo. E se não for, está tudo bem!
Não tenha filhos por que "está na época", por que está "passando da idade", por que "já está casado há muito tempo" nem "para ter quem cuide de você".
Minha sugestão nesse post, pensando numa parentalidade consciente e em crianças felizes e confiantes para um mundo melhor, é: tenha filhos se, e somente se (!!) for o seu (!!) desejo! O desejo maior! Realmente uma razão na sua vida. Por que eles vão demandar isso de você. E ter decidido tê-los é totalmente responsabilidade sua.
As crianças fruto dessa decisão não podem ser eternamente cobradas, nem têm que pagar por decisões tomadas baseadas em expectativas irreais. A decisão é sua e precisa ser pensadas, analisada e decidida de forma consciente.
A decisão por ter filhos ou não é sua. A responsabilidade também.
E se decidir pelo não, está tudo bem! Mas se decidir pelo sim, não somente tenha filhos. Sejam pais.
Pais presentes, conscientes, que dão amor e carinho. O mundo não precisa de mais crianças terceirizadas, sozinhas, chorando sem colo. Mas está, sim, precisando urgentemente de pessoas boas, amáveis e cheias de amor.
#PsiMama
